Mudanças nas tarifas dos EUA impactam o agro brasileiro e abrem espaço para novas parcerias comerciais

Geopolítica reduz fundamentos de mercado como critérios para tomada de decisão no comércio internacional

A CNA elaborou uma análise dos possíveis impactos as novas tarifas anunciadas pelo governo americano, sobre o agronegócio brasileiro. As medidas, que entram em vigor em duas etapas — uma tarifa básica de 10% sobre todas as importações a partir de 5 de abril e sobretaxas recíprocas aos países com os quais os EUA têm os maiores déficits comerciais a partir de 9 de abril — devem afetar diretamente diversos produtos do agro nacional.

Segundo o levantamento, os Estados Unidos atualmente figuram como o terceiro principal destino das exportações do agronegócio brasileiro, atrás apenas da China e da União Europeia. Em 2024, o país respondeu por 7,4% da pauta do setor, somando US$ 12,1 bilhões. Historicamente, esse percentual oscila entre 6% e 7,5%, reforçando a importância do mercado norte-americano como destino consolidado para o agro brasileiro. Cerca de 30% das exportações brasileiras aos EUA são de produtos agropecuários.

Entre os itens mais vulneráveis às novas tarifas estão os sucos de laranja resfriados e congelados — nos quais o Brasil detém 90% e 51% das importações americanas, respectivamente —, a carne bovina termoprocessada (63%) e o etanol (75%). Já o café verde, principal item agroexportador para os EUA, teve 17% de sua pauta exportada para o país norte-americano em 2024. Para esses produtos, a elevação das alíquotas pode reduzir significativamente a competitividade brasileira, beneficiando produtores locais e impactando os rendimentos dos exportadores brasileiros.

Atualmente, as tarifas médias sobre produtos do agro brasileiro giram em torno de 3,9%. Com a nova medida, esse número pode subir para 13,9%, representando uma mudança brusca na dinâmica comercial entre os países.

Geopolítica entra em cena no comércio agrícola internacional

Segundo o professor Marcos Jank, do núcleo Insper Agro Global, o cenário atual revela que a geopolítica está substituindo os fundamentos de mercado como principal critério de decisão no comércio internacional. “Trump está partindo para uma ‘lei da selva’, com medidas unilaterais tarifárias e técnicas. Os países estão reagindo e o ambiente comercial internacional está mais instável”, afirmou.

Para Jank, isso cria um ambiente de “salve-se quem puder”, com aumento da inflação, inicialmente nos EUA, e possíveis efeitos colaterais globais, como políticas de reciprocidade e novas barreiras comerciais.

OMC alerta para queda no comércio global

A diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala, também demonstrou preocupação. Em comunicado oficial, destacou que as medidas anunciadas pelos EUA podem levar a uma contração de 1% no comércio global de mercadorias em 2025 — quase quatro pontos percentuais abaixo das previsões anteriores. A OMC está monitorando os desdobramentos e já foi procurada por diversos países que buscam entender os impactos sobre suas economias.

China pode ampliar espaço para o Brasil em meio à tensão com os EUA

Apesar dos desafios, o cenário também traz oportunidades. Com a intensificação das tensões comerciais entre China e Estados Unidos, a China vem reforçando sua política de diversificação de fornecedores e fortalecendo laços com parceiros estratégicos — entre eles, o Brasil.

Segundo fontes do Ministério das Relações Exteriores e do setor exportador, Pequim já sinalizou a intenção de ampliar a importação de produtos agropecuários brasileiros como medida de segurança alimentar e resposta indireta ao novo pacote tarifário dos EUA. O movimento reforça o papel do Brasil como parceiro estratégico da China, especialmente em commodities como soja, carnes, café e frutas.

Além disso, veículos de imprensa chineses estatais divulgaram nas últimas semanas que o Brasil é visto como “alternativa estável e confiável” em meio à crescente imprevisibilidade dos Estados Unidos, o que pode acelerar acordos fitossanitários e destravar pendências tarifárias.

Para o setor produtivo brasileiro, o momento exige atenção redobrada, mas também estratégia. “Aumentar o valor agregado, diversificar mercados e fortalecer relações com parceiros comerciais como China e União Europeia pode ser uma saída inteligente neste novo contexto global”, destaca o relatório da CNA.

 

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Fonte: Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)https://cnabrasil.org.br/storage/arquivos/pdf/Dri.nt-06-Tarifas-EUA-2025.03abr2025.vf.pdf

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