Hoje a InCeres traz um artigo que mostra a importância dos dados dentro da Agricultura Digital. O artigo abaixo foi publicado pelo portal AGFunder News, assinado por Joseph Byrum, cientista de dados chefe da Principal Finnancial Group, um grupo de gerenciamento de investimentos localizado em Des Moines, estado de Iowa (EUA).
Joseph faz uma reflexão sobre como podemos “precificar” o real valor dos dados coletados no campo, como isto é uma ação essencial para o desenvolvimento dos produtores, profissionais e do mercado agro como um todo.
Para exemplificar a importância de se valorizar os dados coletados no campo – além de utilizá-los da maneira correta -, Joseph cita o mercado brasileiro da Soja como um caso de sucesso, apontando dados que comprovam que o crescimento da safra brasileira nos últimos anos é fruto da utilização e valorização dos dados, além do uso das tecnologias e internet das coisas para otimizar o consumo e benefícios vindos dos mesmos.
Para fechar este resumo, um dos pontos importantes citados pelo articulista é o papel de peso representado pelas startups e empresas de tecnologia, as agritechs, que desenvolvem soluções adaptadas às realidades brasileiras que impulsionam este crescimento.
Fique agora com o artigo completo.
Qual o real valor dos dados do campo?
Como valorizamos os dados que vem do campo? Esta questão não é fácil de se responder.
O tradicional comercial da MasterCard mostra o quão difícil é quantificar o valor de certas coisas, mostrado, em uma série de campanhas, que produtos tem preço, mas experiências “não tem preço”. O pai leva seu filho ao estádio de futebol, paga R$ 90 pelos ingressos, R$ 30 comida e R$ 15 uma bandeira – tudo comprado no crédito, é claro. Cada item tem um preço claro, fixo, que é mostrado no comercial. Mas o valor intangível, sem preço, é o do sonho realizado, da experiência entre pai e filho de estar ali naquela tarde acompanhando juntos uma partida de futebol “não ter preço”.
O mesmo contraste pode ser feito no campo, onde a terra, a semente, a água, o fertilizante, os defensivos, o maquinário, combustível, mão de obra e os softwares, todos eles têm seu preço físico fácil de se identificar. Contrastando com isso, os dados gerados a partir deste trabalho no campo, com cada um dos itens citados acima, não possuem preço fixo, mas ao mesmo tempo, existe uma alta demanda para acessar este tipo de informação. Os dados do campo claramente possuem um valor, mesmo que não seja fácil atribuir um valor em R$ por eles.
O valor dos dados na produção da Soja
Seja qual for a métrica, os Estados Unidos dominam a produção mundial de Soja. Dos 351 milhões de toneladas da produção mundial estimada para este ano, quase um terço – 117 milhões de toneladas – virão dos campos norte-americanos, de acordo com a USDA. Incrivelmente, no entanto, o Brasil está a apenas 3 milhões de toneladas de roubar este título de maior produtor mundial de Soja das mãos dos EUA. Algo que parecia impensável há uma década atrás.
Mas o que mudou nestes últimos 10 anos? O Brasil costumava se encontrar cerca de 28 milhões de toneladas atrás dos produtores norte-americanos, mas o país rapidamente alcançou e quase dobrou seus índices de produção da soja, enquanto mantém uma vantagem de 12% no custo de produção por acre (US$ 364.09 nos EUA contra US$ 324.33 no Brasil). A USDA diz que o segredo por trás do salto brasileiro na produtividade da Soja é a “nova tecnologia para sementes desenvolvida pela Embrapa”.
A combinação da adoção generalizada de técnicas de plantio zero no Brasil com a criação de genética avançada da soja específica para adaptação ao clima da América do Sul e as condições do solo do continente é que resultaram nesse desejado resultado. Nunca seria possível desenvolver cultivares avançados em um curto espaço de tempo sem o poder que a organização chama de computação científica.
“Com crescente disponibilidade de recursos informáticos”, explica um pesquisador em um whitepaper publicado pela Embrapa, “ novas técnicas de análise foram desenvolvidas para analisar dados em geral dos quais na pesquisa agrícola tem muito a se beneficiar. Os dados da pesquisa acumulados por anos podem agora ser acessados via data mining e a experimentação otimizada com a ajuda da simulação”.
Em outras palavras, o sucesso do Brasil na Soja foi construído com dados.
As lições para os produtores dos EUA
Isso deveria servir de lição para que os produtores norte-americanos acordem para perceber que a sua posição dominante no marketplace global não está longe de ser tomada. O sucesso futuro dos produtores dos EUA depende de se fazer cada vez mais com os dados do campo.
O sucesso brasileiro veio com um custo aos produtores norte-americanos, que enfrentam preços atuais que eram exatamente iguais aos de 2010. Isso coloca uma pressão tremenda nos produtores de soja dos EUA para que fortaleçam sua linha de fundo, aumentando assim a produtividade.
A boa notícia é que os preços das ferramentas de coleta de dados do campo – sensores remotos, drones e imagens de satélite – continuam a cair e suas funcionalidades e capacidades rapidamente aumentam. Softwares para gerenciamento dessas ferramentas estão se tornando cada vez mais fortes, e as startups estão oferecendo soluções para ajudar os produtores a fazer cada vez mais com as oportunidades que são mostradas pelos dados (e o seu processamento), com bons exemplos vindos do Brasil.
Mas quanto esta oportunidade custa? Nossas análises mostram que os produtores norte-americanos poderiam ganhar coletivamente mais de US$ 45 milhões todos os anos, simplesmente usando técnicas de análise de dados para escolher a melhor semente para próxima colheita, ao invés de confiar no que funcionou melhor no ano anterior.
Os agricultores individuais se aproveitam dos bancos de dados de colocação das sementes que podem aumentar seriamente o retorno sobre a renda, e este é apenas um exemplo do que é possível fazer.
Agora imagine o poder coletivo dos produtores norte-americanos combinando as informações disponíveis dos seus dados de campo para otimizar as técnicas de gerenciamento e a genética da soja. A o valor total da safra de Soja nos EUA é de US$ 38 bilhões, o que significa que cada ponto percentual ganho em produtividade vale mais US$ 380 milhões anualmente.
Aproveitar ao máximo os dados produzidos no campo requer um investimento inicial em sistemas de coleta e de análise de dados, itens que possuem preço fixo, com custos precisos. Os benefícios de incrementar a produtividade que a Agricultura de Precisão torna possível são difíceis de fixar (no mercado norte-americano) pois são difíceis de mensurar.
Mas o que aprendemos com a experiência brasileira dentro da Agricultura de Precisão e processamento de dados, no entanto, é que os benefícios ultrapassam os custos, valendo e muito a pena o investimento.
Então existe uma série de valores possíveis que maximizem o uso de dados que podem trazer, aos agricultores individuais, mas talvez seja suficiente saber que os dados do campo são vitais para o sucesso. Na rivalidade amigável entre os produtores de soja da América do Sul e do Norte, manter a liderança global na próxima década “não tem preço”.