Botina na terra e olhos na tela: o que é preciso para ser um bom consultor agrícola?

Ninguém duvida que é necessário um bom médico para um diagnóstico ou tratamento de qualidade, e sejamos sinceros, é difícil se sentir seguro em confiar a sua vida em um médico que faz o diagnóstico sem ao menos tocar no paciente.
Salvas as devidas proporções, este é o mesmo sentimento que os agricultores têm em relação aos consultores agrícolas, função sempre desempenhada por bons engenheiros agrônomos e técnicos agrícolas, mas que hoje é colocada em dúvida por alguns dos produtores rurais.
Mas qual é a razão disso? Será que os agricultores estão conseguindo criar estratégias de manejo sem a necessidade de um bom consultor agrícola? Ou os consultores agrícolas estão entregando estratégias simplistas que por sua vez acabam prejudicando a própria carreira?
Uma pergunta fica no ar, e é sobre ela que queremos falar: O que é preciso para ser um bom consultor agrícola? Não temos a pretensão de responder de forma definitiva esse questionamento, mas queremos provocar uma reflexão entres os consultores, sobre o posicionamento que estes precisam ter frente ao cenário agrícola em transformação.

Um bom consultor agrícola está atento ao agrodigital

Foi na década de 1960 onde ocorreu a revolução verde na agricultura do Brasil, com a vinda avassaladora de tecnologias, maquinário agrícola e produtos químicos.
Podemos dizer que estamos passando pela revolução digital na agricultura, já que em certos lugares é quase impossível pensar em se fazer agricultura sem a utilização de tecnologias digitais.
Mas ao mesmo tempo que há este crescimento digital, surge um mal entendido, uma resistência vinda de uma parcela significativa dos profissionais às novas tecnologias no campo, como se elas viessem com intuito de substituir o fator humano.
O que a realidade tem mostrado é que a tecnologia digital, o big data, a internet das coisas, não tem substituído a inteligência humana, nem mesmo a função dos consultores agrícolas, mas sim exigido mais da inteligência humana.
Isso aprimora a habilidade do consultor agrícola para, a partir de dados e resultados coletados, delinear estratégias agronômicas de alto desempenho. Sim meus amigos, a tecnologia é uma grande aliada, e quem consegue entender isso certamente trilhará um caminho de sucesso.
Saindo do personagem do consultor agrícola, voltando para os consultórios médicos, o exemplo se mantém: a tecnologia não acabou com a profissão dos médicos, mas exigiu deles aperfeiçoamento, atualização constante e sintonia. O resultado: cada vez mais vidas salvas.
O que talvez aconteça é que muitos agricultores já não aceitam mais as tão famosas “receitas de bolos”, ou seja, recomendações sem critérios técnicos e científicos, baseado apenas na expertise técnica do consultor agrícola.
A agricultura é complexa e tão passível de cenários distintos que o próprio solo pode apresentar características totalmente diferentes dentro de um mesmo talhão, exigindo um tratamento diferenciado e localizado.
Isso demanda de uma estratégia que pode ser definida pela análise de vários fatores, como o solo, clima e fisiologia vegetal, estratégia essa que sempre será melhor que uma tomada de decisão com base em uma única informação.

Feeling humano em prática

Por outro lado, muitos consultores agrícolas têm confiado todo o seu trabalho somente em cima da tecnologia, como se ela sozinha pudesse entregar ao agricultor uma estratégia agronômica de resultado.
Neste caso nada substitui a boa e velha visita a campo, pisar no barro, tocar nas plantas, entender e ver seu desenvolvimento em um bate-papo com o produtor.
Não basta apenas gerar um mapa de fertilidade, um mapa de produtividade, NDVI ou condutividade elétrica e entregar ao agricultor como se ele fosse colocar em uma bela moldura e pendurar na parede do escritório.
O que se espera é que tendo estes dados em mãos, o “bom consultor agrícola” trace uma estratégia específica para seu cliente, que parte do entendimento da realidade e necessidade do mesmo.
Você pode levar muitos computadores e equipamentos a campo, mas ainda assim você precisará de um bom consultor agrícola que saiba utilizar na prática as informações geradas por estes.
A tecnologia não veio para tornar simplista o trabalho do consultor agrícola, mas para tornar seu trabalho mais especializado e completo.
Essa é a resposta! É isso que precisamos: consultores agrícolas especialistas. Dessa forma, quem deseja seguir pelas estradas da Agricultura de Precisão precisa se tornar um especialista, pois este com certeza não é um lugar para aventureiros.
Há uma grande máxima na vida, de que os extremos nunca são os melhores caminhos. Isso é tão verdade, que quando pensamos em agricultura, no dia a dia de um consultor agrícola moderno, não pode-se mais dissociar o homem da máquina, a inteligência humana e a inteligência artificial.
Aos que insistem em permanecer somente de um lado, caberá ao tempo e o insucesso mostrar se suas escolhas foram as melhores.
Aos que estão dispostos a assumir este desafio de juntar campo e computador, botina e teclado, há em seus horizontes uma imensidão de trabalho a ser feito, de resultados a serem atingidos, de sucesso a ser alcançado.


mirgon brandit
Mirgon Brandt
Engenheiro Agrônomo – UFSM
RTV na InCeres – Sistemas para Agricultura de Precisão


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